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Dentro da moda ou fora dela, ser mulher é arte
Autumn Goodman | Unsplash
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Assim como a moda, nós mulheres trazemos cor e beleza, calor e aconchego. Somos mais que uma aparência, somos história, com seus pontos feitos e refeitos, com seus acabamentos irregulares e perfeitos. Somos muito mais.

Quando falamos sobre a moda italiana e seus grandes criadores, quase sempre vejo nomes de grandes estilistas homens, os primeiros a serem lembrados.

Mas, e se fossem mulheres — e não homens — quem tivesse feito com que a moda italiana viesse a ser conhecida?

Nos anos de 1900, nasciam na província de Parma, na região da Emilia Romagna as eternas Zoe, Micol e Giovanna. Poderiam ser nomes ao acaso, mas não são. São os nomes das três grandes mulheres que fizeram com que a moda italiana passasse a ser conhecida mundialmente. Três irmãs, conhecidas por nós aqui na Itália como as irmãs Fontana (le sorelle Fontana).

Foram mulheres que, por meio de suas roupas, vestiram outras grandes mulheres em um estilo romântico. Ava Gardner, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor e Jackeline Kennedy são alguns dos nomes que passaram pelo ateliê das irmãs.

Todo o talento e criatividade naquela alfaiataria trazia também todo um cuidado, pesquisa e preparação. Elas ajudaram a projetar o estilo e a moda da Itália para o mundo.

https://www.instagram.com/p/CI8JsOfjzjk/

Além delas, claro, há muitas outras mulheres que fazem e fizeram história na moda e seria injusto não citar nome a nome.

Enquanto isso, a internet se ocupou no mês de março em divulgar rapidamente temas sobre “o que é ser mulher”. Tente procurar, não tem definição que falte, posts motivacionais ou a tentativa de reconhecimento para nós mulheres. Mas, afinal, o que define a mulher?

LEIA TAMBÉM: A moda nos diz mais do que apenas o nosso gosto pelo vestir

Mulheres usam rosa?

Quando falamos de moda, cor é um assunto importante. Atualmente, a cor rosa ainda é muito associada ao gênero feminino, especialmente quando falamos de bebês e crianças.

Mas, nem sempre essa associação foi assim. Na realidade, tempos atrás, o oposto acontecia. O azul era a cor das mulheres e, o rosa, dos homens.

A cor rosa era muito usada por meninos como uma variante da cor vermelha. Enquanto isso, a cor azul fazia parte do vestiário feminino. A ideia era que o rosa era uma cor mais forte e passava o sinal de coragem. Ao contrário, a cor azul era lembrada como uma cor cândida, como sinal de delicadeza, fazendo referência ao manto de Nossa Senhora.

Com o passar dos anos, mais uma vez essa associação, sem uma motivação específica, foi mudada. Dos meninos a cor rosa foi retirada e de nós, a cor azul.

Não foi só a cor a mudar, mas toda a associação que essa cor trazia. Muda-se a cor, mudam-se os conceitos. E, com isso, o rosa passou a ser considerado uma cor delicada e acolhedora, enquanto o azul passou a trazer mais seriedade.

Esse excesso de delicadeza que delegam sempre ao universo feminino, que tantos tentam atribuir como um sinal de fraqueza, ou falta de poder, nunca representou a nossa realidade e sabemos disso. O setor da moda, em especial, também sabe disso ― já que é principalmente composto por mulheres.

Na região de Vêneto, por exemplo, foi criada uma cooperativa que, entendendo a força da mulher, entendeu também as situações de vulnerabilidade que muitas de nós podemos passar na vida. Através da moda, profissionais ― especialmente mulheres com uma história de abusos emocionais e violência doméstica ― passam a ser ajudadas por outras mulheres.

Elas fazem parte do Projeto Quid (@progettoquid), onde a dor é transformada por meio do apoio mútuo e da arte criativa, uma moda inclusiva e sustentável que utiliza materiais de produções locais que foram recuperados de avances de grandes empresas, fazendo com que a moda feminina renasça através de mãos de outras grandes mulheres. É uma moda que vem transformada, assim como quem integra o projeto.

https://www.instagram.com/p/CbIUm18qkml/

Quem tem o poder?

Usa-se, em inglês, para dizer quem dita as regras em uma relação a expressão “who wears the pants” (quem usa as calças).

Nós tivemos que esperar até meados dos anos 60 para que pudéssemos usar nosso tailleur e calça com segurança. Essa liberdade de escolha quem ajudou a popularizar foi o designer Yves Saint Laurent, numa época em que o uso dessas roupas por mulheres ainda causava certa polêmica na sociedade.

Sua proposta de smoking feminino trazia muito mais que uma tendência, mudava o modo como seriamos vistas e, ainda mais, mudava o modo como nós nos perceberíamos através da moda. Tínhamos finalmente direito a usar sem constrangimento o que era então conhecido como uma moda masculina, o famoso tailleur: uma calça e um blazer.

Foto de uma exposição de YSL em Paris, registrada por Maria Emilia (Foto: arquivo pessoal).

Ser arte

Ser mulher me ajuda a entender que, assim como a moda, somos arte em algum modo. Damos vida e movimento, encantamos, somos flexíveis e rígidas ― na medida certa para sustentar um corpo.

Assim como a moda, trazemos cor e beleza, calor e aconchego. Somos mais que uma aparência, somos história, com seus pontos feitos e refeitos, com seus acabamentos irregulares e perfeitos. Somos muito mais.

Ou talvez como disse certa vez Yves Saint Laurent: “Aprendi que mais importante do que uma roupa é a mulher que a veste”.

Feliz “todo dia” das mulheres.

Leia todos os textos de Maria Emilia em sua coluna na Vida Simples.


MARIA EMILIA é ítalo-brasileira. Mora em Milão e é apaixonada pela filha Agata. Escreve a newsletter “A Moda Por Aqui” e compartilha novidades no LinkedIn (@emidacunha). Apesar de ser bacharel em Moda e de trabalhar na área, ainda segue indecisa sobre suas escolhas diárias ao abrir o guarda-roupa.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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