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Com pontuação e com afeto
Chainarong Prasertthai | Istock Crédito: Chainarong Prasertthai
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Para as novas gerações o ponto final em mensagens pode significar falta de sinceridade ou frieza. Mas e se para mim não?

Foi em um dos episódios da série brasileira Manhãs de Setembro, protagonizada pela cantora Liniker, que me dei conta de como existe uma leitura diferente para a presença ou ausência de pontuação em mensagens de texto. Uma mulher, conversando com o marido sobre a filha, comenta como ela fica o dia todo sem responder suas mensagens. E, quando retorna, envia apenas um “ok”. Ao que ele pergunta: com ponto final? E ela responde que obviamente não. Eles riem.

Parece algo particular ou sem importância do enredo, no entanto, não é. Trata-se do reconhecimento público da diferença de comunicação entre gerações. Segundo a linguista Gretchen McCulloch, autora do bestseller “Por causa da internet: entendendo as novas regras de linguagem” (em tradução livre), as pessoas mais jovens são as menos afeitas a utilizar pontuação em

comunicações rápidas por texto. E para elas, texto quando vem com pontuação tem alguma intenção especial.

O significado da pontuação para os mais jovens

De acordo com um estudo feito pela Universidade de Binghamton, nos Estados Unidos, com a participação de 126 estudantes, descobriu-se que as mensagens de texto com ou sem ponto final eram percebidas de modo diferente. As que utilizavam pontuação eram tidas como menos sinceras ou mais formais do que as que eram finalizadas sem a presença do sinal gráfico. Uma das explicações é que o uso frequente de aplicativos de mensagens pelas pessoas mais jovens, as leva a acreditar que o ponto é um supérfluo. Por isso, quando utilizado, ele quer dizer algo além. Em mensagens mais longas seu uso é considerado normal, mas em mensagens curtas é um indicativo de tom de voz.

pontuação

Crédito: Masterzphotois | IStock

Eu juro que não consigo deixar de usar pontuação em mensagens de texto. Já tentei. Aliás, eu mal conseguia utilizar “vc” no lugar de “você” quando era adolescente. E isso era um padrão das pessoas da minha idade. Chegaram a me perguntar por que eu era assim, em aplicativos como ICQ ou MSN Messenger. Hoje em dia, lidando muitas vezes com pessoas mais jovens no trabalho, fico me perguntando se elas estão achando algo formal demais por eu ter utilizado um ponto final. E aí, acrescento um emoji para dar uma quebrada na possível leitura de excesso de formalidade. Um artificio que não é apenas meu, já que um dos objetivos dos emojis é justamente o de sintetizar emoções visualmente na comunicação.

Como lidar com as diferenças?

Fiz um pacto comigo mesmo. Não quero utilizar terno e gravata num texto, mas também não consigo deixar de seguir as regras do português. A questão é como fazer isso. Bate até uma vontade de mandar uma mensagem ao professor Pasquale, perguntando o que eu faço, com ponto de interrogação e alguma ansiedade por ouvir sua resposta.

Como por ora não pretendo incomodar o professor com minha dúvida, me acalmo com a ideia de que comunicação é uma estrada de mão dupla. E que não existe o jeito certo ou o jeito errado. Existe a melhor maneira de falar e se conectar com uma pessoa. Afinal, não é este o objetivo da comunicação, fazer sentido para a outra pessoa? Foco em entender as preferências dela e deixar claras as minhas. Para que ela saiba o que o ponto final quer dizer para mim e também eu faça a leitura correta do que ele quer dizer para ela. Contexto é tudo. Empatia também. E ponto final, se você quiser, claro.


Tiago Belote é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas  e no Uni-BH. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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