
A vida é hoje – parte III
No apagar das luzes do bissexto fevereiro, compartilhei com você um texto cujo título “A vida é Hoje” convidava à reflexão sobre urgências e prioridades da vida.
Questionava o por quê boicotamos nossas vontades, esperando o momento ideal para realizá-las. Na sequência, pouco mais de 10 dias depois, certa de que a vida real não mandava recados com aviso prévio, segui na pauta o tema que me inquietava mente e coração, e com o homônimo “A vida é hoje – Parte II”, de dentro de uma sala sem janelas, imersa numa das situações mais escassas da vida, mergulhava naquele contexto de corpo e alma.
Coincidentemente, naquela semana ingressávamos na tal pandemia, e sem muito entender o que acontecia, me questionava o ambíguo sentimento ser forte versus sentir medo, com uma única certeza: era preciso a consciência de que vivíamos um dia após o outro, com uma noite no meio. Mais que a não possibilidade de simples planejamentos, meu coração clamava atenção e cuidado. Muitas vidas viraram de pernas para o ar (a minha, inclusive!), mas seguir em frente era preciso – não havia qualquer outra alternativa.
Nesse tenso e intenso período, por aqui conversamos sobre sentir mais, sobre (re)construções, sobre usar as mãos para acessar o coração, sobre o poder de sorrir com os olhos. Por aqui passaram reflexões sobre amor, teve estrada seguindo o fluxo, conversamos sobre a importância da vida de verdade em tempos de filtros nas redes sociais entre outros assuntos diretamente ligados ao nosso coração.
Há exatos 6 dias da chegada do penúltimo mês do ano, cá estou novamente imersa em reflexões que orbitam ao redor de pensamentos sobre aceitação, vulnerabilidade, imperfeições, celebrações, sobre cuidado. Capaz de visualizar o dia em que completarei 50 anos, me concedo a licença poética para nomear essa coluna com as idênticas palavras lá de fevereiro e março, citadas no parágrafo inicial, convicta de que sim, a vida é agora!!!
Esse ano, mais do que qualquer outro, me fez entender que as mudanças nos são apresentadas para “testar” nosso comportamento. Sabe-se que que nesses casos, duas alternativas nos restam: seguir onde estamos ou arriscar qualquer travessia que a cada um de nós fizer sentido. Sabemos que coisas boas nascem de coisas ruins, que há aprendizados presentes em todas as experiências que nos desafiam a seguir novos caminhos, sabemos que depois do inverno, da chuva intensa com baixas temperaturas, chega a primavera, com dias mais iluminados e temperaturas gostosas. Acreditar que qualquer modificação demanda ação, paciência, passos precisos, coragem, mais paciência, e, sobretudo, verdade.
Aí vem a tal maturidade – que traduzo com o período da vida em que nos concedemos as tais licenças poéticas em nossas próprias histórias, mas isso é papo para outro dia.
Novembro tá aí, e já avisa que para entrar ninguém precisará tocar a campainha, basta girar a maçaneta e pisar com ambos os pés nessa reta final que já traz frações de noite de Natal. Que fique muito claro, não quero assustar ninguém, apenas convidar a seguirmos juntos, eu daqui, você daí; a pandemia seguirá nos desafiando e demandando cuidados infinitos, mas eu acredito fortemente de que desse intenso ano virão à tona provas de que coragem, autoamor e esperança foram os valores mais potentes dessa experiência chamada 2020.
Beijos meus!
Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro “Relicário de afetos” e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu Instagram é @lugastal.
*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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