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A moda nos diz mais do que apenas o nosso gosto pelo vestir
Clem Onojeghuo | Unsplash
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Pouco me lembro de Minas Gerais onde nasci, apesar do gosto pela cozinha mineira sempre ter me dado um orgulho e tanto da minha origem. Cresci em Santa Catarina e me mudei ainda adolescente para o interior de São Paulo, em uma cidade perfumada pelas plantações de laranjeiras.

Foi com a minha chegada na capital paulista, entretanto, que entendi que ter vivido em tantos lugares tinha contribuído a desenvolver a minha curiosidade pela cultura e o modo de viver e pensar de cada um.

Esse sentimento ainda estava em desenvolvimento quando entrei no curso de Moda na faculdade. Entre desenhos, corte e costura, tentei me encaixar a todo custo na minha nova vida. Anos depois, minha pós-graduação em História da Moda trazia até mim o conflito entre a teoria e a prática.

Eu tentava justificar a mim mesma, o tempo todo, que a moda podia não ser algo “fútil”, como muitos me fariam acreditar naquele tempo.

Um novo olhar sobre a moda

Foi em 2006 que a Inglaterra me recebeu. Em uma casa inglesa de descendentes anglojamaicanos, dividia meu dia a dia em meio a hispânicos, europeus, chineses, tailandeses, filipinos, coreanos e japoneses.

Os contrastes na maneira de se vestir que encontrei por lá me diziam que meu conceito de estética era limitado. Aquela casa me abriu as portas para a resposta que eu tanto buscara e ainda não tinha encontrado: a moda como forma de comunicação.

Hoje, moro em Milão. Ter trocado a Inglaterra, aquele país tão cinza por um tão ensolarado como a Itália parecia uma tarefa bem fácil na época, há quase 15 anos. Mas essa passagem não foi tão suave assim. Ainda posso lembrar a maneira como eu traduzia todo esse viver.

Minha bagagem era cheia de preconceitos, equívocos, idealização, pretensões e uma leveza que o Brasil me ensinara a ter. Devagar, fui me apropriando dessa nova cultura e, sem me dar conta, a Itália passou a ser meu lar. Isso influenciou meu jeito de pensar, agir e interagir.

Estudar o mundo da moda é o modo mais imediato de entender que não só eu mudei, mas tudo mudou.

A moda como expressão de identidade

Por mais de 10 anos venho colaborando com marcas de luxo, seguindo principalmente o mercado do Oriente Médio. Cada vez que por aqui eu recebo novos clientes e compradores, vejo semelhanças surpreendentes entre as culturas.

A verdade é que, quando somos estrangeiros, temos algo que nos assemelha. Para mim, é a tentativa de entender uma cultura que não é nossa, de se inserir em um ambiente, de fazer parte dele e então nos diferenciar nesse todo. E não existe ferramenta melhor que a moda para realizar esse papel.

O ato de entender profundamente uma cultura pede uma sensibilidade permanente.

É comum eu receber perguntas sobre tendências, cultura e sobre a moda europeia. Como fruto dessas perguntas que me são colocadas, nasceu “A Moda Por Aqui”, uma newsletter gratuita. Ela começou, inicialmente, para um público de estudantes e profissionais de moda no Brasil, mas percebo um interesse crescente por pessoas de outras áreas também. Na newsletter, faço uma ponte entre como percebemos e vivemos a moda por aqui na Itália, mostrando que não precisamos sempre falar de roupas para falar de moda.

PARA LER DEPOIS: Para além das tendências, olhe para você

Traduzir a moda para o público

De acordo com a enciclopédia italiana Treccani, a moda é um fenômeno social que consiste em um determinado momento histórico e em uma determinada área geográfica e cultural, de modelos estéticos e comportamentais.

Isso por si só seria mais que suficiente para compreender o quão vasto é a moda, mas é preciso sempre decodificar, traduzir essas informações. E traduzir toda essas informações nunca é fácil se você não se lembrar quem você é e de onde você vem. Lembrar-me disso fortifica a ideia de que a moda possa ser utilizada com muito mais conteúdo, mais palavras.

Costumo dizer que a moda precisa ser lapidada por cada um de nós nesse excesso de referências que hoje encontramos.

Não é assunto para poucos, é para todos. Ela é muito mais simples e mais complexa que se possa imaginar, é profunda e inesgotável. Afinal, falar de moda é falar de mim e de você.

Estamos prontos para essa conversa?

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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