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3 estratégias para um ano sem reclamações desnecessárias
Matheus Ferrero/Unsplash
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Eu me lembro de uma história contada pelo professor Luiz Marins. Em 1998, ele estava voltando de uma palestra que realizara no sul do país e, no caminho, parou em um bar para descansar um pouco.

O boteco parecia uma pocilga. O balcão estava imundo. As moscas se divertiam voando de um copo para outro. A roupa do dono do estabelecimento se assemelhava a um pano de chão. Pensou em dar meia volta, mas foi chamado pelo proprietário que o reconheceu:

— Professor Marins! É o senhor mesmo? Puxa, que honra recebê-lo aqui. Me diz uma coisa, professor, o senhor acha que corremos muito risco com a crise da Rússia?

Marins ficou encafifado com aquele questionamento. Afinal, por que uma pessoa como aquela, que não tinha ao menos o cuidado de limpar o balcão e espantar as moscas, ficaria preocupada com a crise na Rússia? Para se certificar de que não havia entendido mal, resolveu devolver a pergunta:

— O senhor se refere à Rússia mesmo? A do Boris Iéltsin?

— Sim, professor, é essa. Eles pediram moratória e desvalorizaram o rublo. Estão dizendo que não vão pagar ninguém.

Marins comentou que ficou tentado a indagar o motivo daquela preocupação. E a dizer que, se ele cuidasse bem do seu estabelecimento, a crise não teria nenhuma consequência. Diante daquele quadro quase surreal, resolveu respirar fundo e falou simplesmente:

— Não se preocupe, amigo. Logo tudo estará resolvido. Entre grandes e pequenas crises temos em média sete por ano. E todas são solucionadas.

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Os reclamadores profissionais

Esse é um bom exemplo de gente que vive se afligindo com assuntos de toda natureza. Desenvolvem extraordinária capacidade de se dedicar ao chororô. Levantam pela manhã e vão se deitar à noite sempre fazendo algum tipo de reclamação: da taxa de juros, da inflação, do PIB, do aumento do preço da gasolina, da criminalidade, do escasso tempo para cumprir suas tarefas. O que não falta é motivo para as suas lamúrias.

Os problemas sempre estiveram presentes em nossa vida e continuarão a nos acompanhar. Eu me lembro que o meu bisavô era gente boa, porém, um craque nessa arte de choramingar. Eu era menininho, mas suas reclamações estão até hoje em minha mente. Para ele o país não teria solução. O meu avô, que também era boa praça, não renegou as origens e partiu para o mesmo caminho negativista. Na verdade, ele o aperfeiçoou. Meu pai, em seu DNA, herdou o pacote de queixumes. Eu fiz jus à tradição e mantive a ladainha. E, para minha surpresa, meus quatro filhos e minhas quatro netas, mesmo pequeninas, já mostram sua habilidade em espernear.

Não é proibido reclamar. Acho até que uma choramingada aqui, outra ali, pode ajudar a movimentar as artérias e deixar o espírito mais leve e descontraído. O problema é fazer do chororô um comportamento constante e contagioso. Sim, porque aqueles que vivem à nossa volta pegam a “doença” e, com o tempo, passam a pregar em todos os cantos as desgraças da vida.

Vale a pena fazer uma boa reflexão para ver se não foi contaminado por esse bichinho peçonhento das arengas lamentosas. Se perceber que anda se lamuriando demais, dê um jeito de mudar.

Estratégias para evitar reclamações desnecessárias

Tenha em mente a sua “média de reclamações”

Um bom recurso para se livrar desse mal é adotar o que as empresas fazem para incentivar seus empregados a não serem acidentados. Colocam a placa com a contagem de dias: “Estamos há 150 dias sem acidentes”. Você não vai pôr uma placa, mas poderá fazer anotações em um caderninho, ou no seu smartphone: “Estou há dez dias sem reclamar”. Se o motivo da reclamação for justo, desconsidere. Como vimos, de vez em quando é salutar dar umas estrebuchadas.

Rastreie a origem das reclamações

Fique atento. Se perceber, por exemplo, que tem reclamado muito da falta de tempo, dê um jeito de administrar melhor as horas do dia, dedicando-se às tarefas que sejam prioritárias. Observe se, ao ser cumprimentado com um simpático “como vai?”, não está respondendo simplesmente com o automático e impensado “na correria de todos os dias”. Se agir assim, vá para o caderninho e zere a contagem dos dias, e comece a anotação de um novo período sem fazer reclamações.

Revise o seu “papel de chato”

Precisamos nos conscientizar de que ninguém vai se condoer com os nossos problemas pessoais. Ao contrário, quando alguém percebe a presença de um resmungão, faz de tudo para se afastar. Você vai descobrir que, ao deixar o chororô de lado, a vida passa a ter outra dimensão. Nós aproveitamos melhor os momentos e, lógico, temos a chance de sermos mais felizes. Nós e todas as pessoas que nos cercam.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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