Você não precisa ser perfeito para ser amado
Porque o que nos torna amáveis não é o acerto, mas a verdade de quem somos
Nesta semana, estive preparando a festinha de aniversário do Ben. Eu adoro o clima afetivo das celebrações com cara de feito em casa. Talvez porque me lembra a as minhas festas de criança, quando a minha avó que costurava meu vestido, meus irmãos mais velhos enchiam as bexigas e minha mãe recheava os barquinhos de maionese, enquanto eu ajudava a enrolar as balas de côco naqueles papéis de franjinha…
Hoje o mundo mudou, mas ainda tento preservar algumas coisas do feito em casa nessas comemorações. As avós fazem lanches e docinhos. O pai cuida das compras. Os tios se revezam para repor a mesa e encher balões. E eu adoro toda a parte criativa da decoração, cujo tema Ben tinha muito definido: Harry Potter!
Nesta semana, chamei o Ben para fazer comigo as lembrancinhas. Compramos sacolas krafts e, a partir de uma ideia que vi no Pinterest, desenhei, em cada sacolinha, os óculos icônicos do bruxinho Harry com a cicatriz feita por aquele que não pode ser nomeado. Assim, a personalização ficou por conta de nossas mãos e canetinhas, e o Ben decidiu escrever, em cada sacolinha, seu nome e idade, junto a algum desenho que remete ao universo de Hogwarts: o cachecol da Grifinória, a coruja Edwiges, o Pomo de ouro…
Até que ele não gostou tanto do seu Chapéu Seletor. E nem da Varinha do Harry. “Mãe, não quero que você veja esse, porque não ficou perfeito!”. Percebo o nível de exigência do meu garotinho em suas produções há um certo tempo, e constantemente busco reforçar o quanto seus trabalhos são bons independentemente do resultado, porque neles têm empenho e dedicação. Ali, ele estava com vergonha de não ter acertado como idealizava. De não ter saído perfeito. Entre nossas conversas, eu disse: “filho, meu óculos do Harry também não ficou tão redondo. Mas foi o melhor que eu pude fazer”, comentei.
Ele insistiu em dizer que não havia ficado bom. Que as pessoas não iriam gostar. E, quando a gente fala sobre padrões de perfeccionismo, sabemos que, muitas vezes, a leitura que um perfeccionista faz do mundo é atrelar sua performance com ser digno de ser amado. Ou seja, só vão me amar se eu for perfeito. O que é uma grande inverdade. Então, eu disse pro Ben: “Filho, você acha que tudo que a mamãe faz é perfeito? Às vezes que eu não brinco porque estou cansada, às vezes que eu falo brava com você e perco a paciência… Também esqueço de mandar pra escola algum material seu…. Eu não sou perfeita. E mesmo assim, você me ama?”, “Amo muito, do tamanho do Universo!”, ele respondeu, convicto de que eu merecia o seu amor.
Fizemos uma pausa para o almoço. Depois, decidimos retomar a produção das lembrancinhas. Ele, mais entusiasmado, fez seus desenhos e o percebi mais orgulhoso do resultado. Sei que ele ainda vai se cobrar muitas e muitas vezes de realizar algo impecável. E desejo sempre poder relembrá-lo de que a gente é amado independentemente da nossa performance. Ele é um menino adorável, rodeado de amigos. Seus convidados receberão as lembrancinhas feitas carinhosamente por ele. Não tem o Harry mais perfeito de todos. Mas tem afeto ali. Tem um pouco dele ali. A festa não precisa ser perfeita para ser divertida. A gente não precisa da lembrancinha perfeita para agradecer quem veio.
A gente só precisa ser. Quem a gente é, de coração entregue.
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