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Rótulos não definem, prendem
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Darwin já tinha cantado essa pedra séculos atrás. São os adaptáveis que sobrevivem, prosperam e, então, respondem de forma diferente toda vez que alguém os pede para se apresentarem

 

Sabe aquelas situações em que você precisa se apresentar, como treinamento, pós-graduação, grupo de discussão? Toda vez que acontece, começo a me preocupar com a parte que parece a mais simples, mas para mim é a mais complexa. Responder quem sou eu é tarefa difícil, porque tento evitar me definir pelo trabalho. Sou tão mais complexo do que o cargo que ocupo, penso antes de chegar minha vez. O que você faz? – insiste a pergunta. Faço tantas coisas, você tem tempo? Porque só quando eu te contar quase todas elas é que você vai ter uma noção melhor de quem realmente eu sou. Se eu te conto o que eu faço em 8 horas do meu dia, não necessariamente te disse no que acredito, o que penso, e por qual motivo eu me levanto da cama todos os dias. Posso ter te contado apenas como pago meus boletos.

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O problema não acaba aí. Naqueles formulários de cargo ou ocupação, acabo também gastando muitos minutos. Não consigo preencher no modo automático. O trabalho que faço hoje é tão diferente do que fazia ano passado. Já são outras habilidades desenvolvidas, outras ferramentas utilizadas, não dá pra chamar pelo mesmo nome. Por isso, fico sem saber se preencho o campo com o que faço, com o que está escrito num documento formal, como a carteira de trabalho, ou se posso deixar apenas um ‘me liga que eu te explico’.

Ser inconstante

Ainda precisamos chegar ao meu maior drama: mini bio. Toda vez que me pedem a famosa mini bio, peço um tempo. É o tipo de coisa que não consigo entregar de bate pronto. Porque não tenho uma já prontinha. Tenho, mas não entrego duas iguais, de forma alguma. Porque entre uma palestra e outra a minha biografia já ganhou novos contornos. Aliás, esse é meu exercício constante, renovar minha mini bio, como forma de dizer a mim mesmo que eu estou sempre em movimento.

Não me incomodo de tentarem me encaixar em rótulos, quando querem entender meu trabalho. Eu só não os aceito facilmente. Tiro proveito deles, para explicar a minha mãe o que eu faço, por exemplo, mas não me prendo nos seus limites. Porque os rótulos que te definem, também te prendem. Quando você percebe, já está acomodado nos limites que eles te impuseram. E hoje eu sou mais trânsito do que posição definida. Só uma coisa é definitiva, a mudança. A cada nova apresentação, campo de formulário ou mini bio, uma pessoa diferente. No passado, certamente seria criticado e receberia mais um rótulo, esse negativo: volúvel.

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Hoje, todavia, ser inconstante se tornou uma boa característica, em função de um mundo que a cada rotação, também não é mais o mesmo. Mas, Darwin já tinha cantado essa pedra séculos atrás. São os adaptáveis que sobrevivem, prosperam e respondem de forma diferente toda vez que alguém os pede para se apresentarem.

Tiago Belotte é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas  e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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