COMPARTILHE
O rugido do leão imaginário
Foto: Timon Studler/Unsplash
Siga-nos no Seguir no Google News
Neste artigo:

Imagine a cena: você está andando pela rua quando nota um homem parado na calçada, batendo palmas a cada cinco minutos. Curioso – e talvez um pouco preocupado – você se aproxima e pergunta: “Com licença, está tudo bem? Por que o senhor está batendo palmas assim?” Ele o encara com seriedade e responde, convicto: “Estou espantando os leões”.

Você, então, olha ao redor, procurando algum sinal de perigo. Mas não há leões. Então, comenta: “Mas… Não tem nenhum leão por aqui”. E o homem, satisfeito, retruca: “Está vendo só? Está funcionando!”

Muitos perigos só existem na nossa imaginação

Apesar de parecer absurda, essa história retrata, com precisão desconcertante, o que fazemos quando estamos dominados pela ansiedade. Criamos rituais, hábitos e pequenas manobras para nos proteger de perigos que só existem em nossa imaginação. Evitamos certos caminhos com medo do trânsito, verificamos a porta três vezes antes de sair, carregamos sempre aquele remédio “por precaução”, perguntamos várias vezes se fizemos a escolha certa…

E, no fundo, acreditamos que essas ações nos mantêm a salvo. E talvez mantenham mesmo, mas de algo que nunca esteve realmente lá.

Assim como o homem das palmas, reforçamos a crença de que só estamos bem porque seguimos essas regras invisíveis. E, quanto mais obedecemos a elas, mais elas mandam na gente. É um ciclo: alívio imediato, prisão a longo prazo.

Desmontando a mente que cria cenários perturbadores

Mas há uma saída. E ela começa com um gesto simples e corajoso: olhar de frente para o nosso “bater de palmas”. Que situações você evita? Que rituais repete quase sem perceber, apenas para sentir que está no controle? Observe. Anote. Reflita.

Depois, vem o segundo passo – talvez o mais desafiador: começar a soltar, aos poucos, esses recursos. Permitir-se dirigir por aquela rua mais cheia. Confiar que a porta foi mesmo trancada. Tolerar o desconforto de não checar o celular pela décima vez. Suportar alguns minutos a mais em ambientes que normalmente lhe deixam ansioso.

No início, o “leão” vai rugir. Pode ter certeza. Mas, com o tempo, você vai perceber que ele é só um eco e que você está mais forte do que pensava.

Eu sei, não é fácil. Às vezes, parece que estamos saltando de um avião sem paraquedas. Mas e se, no meio da queda, você descobrisse que tem asas? Ansiedade assusta, sufoca, embaraça, mas passa. É uma sensação, não uma sentença.

Esse texto pode lançar luz sobre o tema, mas é importante dizer: a psicoterapia é um espaço seguro, profundo e necessário para compreender as raízes da ansiedade.

➥ Leia outra coluna de Marcos Lacerda

Pare de lutar contra a vida

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário