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Ninguém é você
Foto: Jacqueline Munguia/Unsplash. Precisamos resgatar a alegria de ser quem a gente é
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Estávamos desenhando juntos. Eu rabiscava um Sonic, a pedido do meu garoto, enquanto ele também fazia sua própria versão do ouriço azul. Ben espiou a minha folha e se queixou: “Mãe, o seu é melhor, o meu não ficou tão certo…” Queria desistir da atividade. Meu filho tem seis anos, e desenha há quase três – nesse tempo, saiu dos riscos que cruzavam a folha sem muita direção, passou pelas garatujas e agora já era capaz de representar personagens com bastante qualidade.

Mas ele estava se comparando. “Meu amor, seu desenho está muito bom, dá pra perceber o quanto você se dedicou para fazer cada traço. A mamãe desenha há muitos anos, e eu não desenhava como hoje quando tinha a sua idade. A gente vai se aprimorando conforme a prática e o tempo”, respondi, mas o argumento não convenceu.

Decidi pegar as pastas onde guardo seus trabalhos – me tornei uma mãe acumuladora? Certamente… – e fomos acompanhando a trajetória dele ao longo dos seus rabiscos. “Veja, cada um desses desenhos, filho, tem seu valor. Nenhum é melhor ou pior. Todos carregam um pouco de você naquele momento”. E ele, então, se viu orgulhoso de sua jornada.

Que a comparação sirva apenas de inspiração

Dia desses, estive na escola dele, e caminhei pela fileira de pinturas de sua turma. Bati o olho em uma e logo reconheci, mesmo sem a assinatura do artista: aquele era o trabalho do Ben. Daí, me lembrei da frase: “Ninguém é você. E esse é seu superpoder”.

Em nossa caminhada pela Terra, a comparação com os passos alheios é inevitável, e até tem seu valor quando serve de gentil inspiração. Mas ela nos limita se fantasiamos que os outros são melhores, mais bonitos, mais inteligentes ou bem-sucedidos, sem a menor ideia sobre suas dores, que certamente estão ali.

Por isso, cultivar a autocompaixão e honrar nossos passos com amorosidade pode ser uma boa rota para viver com mais satisfação, experimentando a alegria que é ser e habitar você.

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