Minha jornada até a ‘mágica’ do Ayurveda
Em uma trajetória marcada por dúvidas, distúrbios alimentares e recomeços, nova colunista Mariana Goldfarb encontrou mais que uma medicina: um caminho de autoconhecimento, equilíbrio e verdade
Encontrei o Ayurveda não por acaso. Tenho uma personalidade que não se contenta com respostas prontas, sempre fui questionadora, sempre quis enxergar além do óbvio – e, algumas vezes, felizmente, consegui.
Não tenho, no meu histórico escolar, o gosto pelo estudo. Não desenvolvi aptidão para isso nem no colégio, nem na minha primeira faculdade, que foi Direito. Estava tão perdida na época, que lembro de ter entrado nesse curso por influência do meu primeiro namorado, com quem fiquei 11 anos. Ele fazia Direito, então, de maneira nada individualista, resolvi fazer também.
Até teria sido promissor, pois possuo características úteis na hora de lutar por alguma causa. Queria ser defensora pública. Isso também é um fato marcante sobre mim: mesmo sem saber exatamente, sempre quis fazer coisas que gerassem impacto positivo na sociedade. Não porque sou altruísta, mas porque sei que ser agente de soma me faz sentir melhor comigo mesma.
Enfim… não concluí a faculdade. Já trabalhava como modelo nessa época. Aliás, comecei a trabalhar muito cedo e já fiz de tudo: desde vender em loja no Natal até ser assistente de palco em programa de televisão. Mais tarde, me tornei apresentadora e viajei para mais de 35 países, caçando as ilhas mais paradisíacas do mundo. Eu sei, o típico clichê. Fazer o quê? A vida é cheia deles – e eu adoro.
Abandonei a faculdade faltando dois períodos. Demorei muito tempo para admitir às pessoas que não havia me graduado. Tinha vergonha de dizer que não era formada… ainda.
Depois de um tempo, ainda trabalhando como apresentadora e modelo, e já poupando o dinheiro fruto do meu trabalho, decidi cursar Comunicação. Pensei que talvez pudesse me ajudar como apresentadora. Lembro que cogitei trabalhar como jornalista (por que não?), e a faculdade era perto da casa do meu próximo namorado. Mais um motivo “forte” para mim na época.
É duro não se conhecer bem, viu?
A gente fica à mercê dos outros. Diria até que nossa existência fica resumida a eles. Odiei a faculdade. E o namoro acabou logo. Ainda bem.
Continuei na busca. Acho muito pouco razoável termos que escolher tão jovens uma carreira. As coisas não são tão claras assim. Pelo menos, para mim, não foram. Demorei a me entender como indivíduo e a descobrir quais eram as minhas vontades verdadeiras, meus talentos, minhas aspirações. Com 18 anos, eu só queria namorar – não que hoje isso tenha mudado muito, mas, felizmente, descobri outros interesses (brincadeira, tá, gente?).
Segui minha vida, trabalhando cada vez mais na televisão. Logo depois, com a chegada da internet e das mídias sociais, explodi. Nessa época também comecei um relacionamento com uma figura pública e nunca neguei que isso me deu visibilidade.
E aqui vai uma confissão: passei um bom tempo creditando meu sucesso profissional a essa relação, sem perceber que só cresci o que cresci, e só tinha relevância para marcas e para as pessoas que me escutavam, por minha própria causa. Se eu fosse desinteressante, poderia ter casado com qualquer um, que ainda assim eu seria apenas “a esposa de”.
Ainda nessa mesma época, desenvolvi uma anorexia que, pelo tempo em que se manifestou de forma aparente no meu corpo, quase me derrubou. Quase. Se eu não fosse ainda aquela menina que faz perguntas, que quer entender o mundo – mas a partir dos próprios olhos –, talvez eu estivesse em outro lugar agora.
Não gosto de romantizar situações difíceis da minha vida – nem da vida dos outros. Não sou adepta da positividade tóxica. Não sou Poliana (esse papel deixei de interpretar faz algum tempo). Mas, de fato, para mim, na minha história, a anorexia foi um grande agente de transformação e autoconhecimento. Foi uma ferida por onde acessei muitos fantasmas. Tive a oportunidade de me trabalhar, de me descobrir, de entender quais eram os machucados… e dar nome a eles.
Nomear as próprias dores
Uma coisa que pouca gente sabe: ao nomear as dores, elas diminuem de tamanho. Fingir que não existem, ou fazer de conta que não dói, dói mais.
Eu simplesmente não comia. Mais do que isso: não comia e bebia. Mais do que isso: não comia, bebia, comia chocolate depois pra abafar o vazio e vomitava. O dedo na goela aconteceu umas quatro vezes. Eu achava que qualquer coisa que entrasse no meu corpo pela alimentação era danosa, ia me fazer mal, ia me engordar muito e, por isso, eu não seria amada. Eu achava que precisava ser magra para ser amada. Para não ser abandonada.
O mais louco disso tudo é que eu já era magra. Mas a doença cega a gente. Eu não me via daquela forma. Precisava sentir os ossos do meu quadril. Precisava que os ossos do peito aparecessem sob a blusa.
Desmaiei algumas vezes depois de fazer atividade física, como é evidente. Dormia muito mal. Imunidade no chão. Alegria, então… raramente me visitava.
Quando penso nesse período da minha vida, preciso me esforçar para lembrar de algumas coisas que meu cérebro, num instinto de proteção, jogou no esquecimento. Mas, estranhamente, hoje, muitas lembranças estão sendo diretamente acessadas.
Eu só comia proteína e e nunca com azeite ou óleo. Comprei panelas caríssimas que não precisam de gordura para grelhar. Nem o ovo mexido tinha nada: jogava ele puro na frigideira. Aliás, fazia mais ovos pochê, porque era só jogar na água.
Eu comia ovos pochê com carpaccio de polvo e salada. Ou aspargos enrolados no presunto parma. Poucas quantidades. E só isso. Brócolis, cenoura, arroz (mesmo o integral), beterraba, batata-doce, baroa… nada disso entrava na minha dieta.
Era adepta de jejuns longuíssimos. Contava até os minutos. Ficava 18, 19 horas sem comer. Todos os dias.
Eu ainda pratico jejum hoje, mas de forma completamente diferente. Agora há saúde por trás.
Quando viajava de avião, levava uma mala só com as comidas “permitidas”. Aniversários, casamentos… não importava. Eu me recusava a comer, por mais que quisesse desesperadamente.
Busca por ajuda
A anorexia se manifestou de forma aguda e intensa por uns seis meses, até que fui procurar ajuda. Quando comecei a frequentar uma psicóloga, os sintomas começaram a abrandar gradualmente. Nunca digo que estou “curada”, mas, internamente, escrevendo este texto, sei que estou bem perto disso.
Estar sã em uma sociedade doente é um feito. Ser saudável quando tudo ao seu redor incita ao adoecimento é quase feitiçaria. Ainda mais trabalhando com o que eu trabalho… estar do lado de cá também não é fácil, sabe?
Junto com a análise, que, orgulhosamente, não foi associada a nenhum remédio, eu passo os meus processos na pele mesmo. É na raça. Sempre foi assim.
Comecei a estudar. Logo eu, que odiava ler, comecei a devorar livros. Primeiro sobre nutrição. Depois, sobre psicologia. Queria entender o que estava acontecendo com o meu corpo, com a minha cabeça.
Entrei para a nutrição. Fui excelente aluna. Descobri, então, que aquela menina, afinal, gostava de estudar. Me aprofundei. Fiz vários cursos paralelos à faculdade. Fui andando de curso em curso, inclusive aromaterapia. Até que encontrei o Ayurveda.
E então, minhas amigas… eu vi mágica. Que de mágica não tem nada: é tudo real. É a medicina mais antiga do mundo. E justamente por isso, estarei aqui na Vida Simples todos os meses, dividindo com vocês tudo o que a Medicina Ayurvédica me ensinou.
Vamos juntas?
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