COMPARTILHE
Intimidade Artificial
Foto: Robin Worrall/Unsplash. A era da hiperconectividade pode até mascarar a escassez de vínculo, mas não é suficiente para enganar nosso sistema emocional
Siga-nos no Seguir no Google News
Neste artigo:

Imagine a seguinte cena: você está em uma reunião de trabalho ou de amigos falando sobre algo importante para você. Duas das três pessoas presentes, sem muita cerimônia, teclam ao celular. A certa altura da “conversa”, uma delas devolve o telefone para a mesa e esboça o comentário: “Eh… Complicado, né?”

Se você já viveu uma situação semelhante a essa, sabe o que significa o conceito que autores contemporâneos como Sherry Turkle e Todd Essig vêm chamando de intimidade artificial – a nova IA.

Não dá para negar que o digital nos trouxe muitas comodidades: podemos fazer uma reunião de trabalho, uma sessão de terapia, uma aula ou mesmo paquerar sem precisar sair de casa ou sequer tirar o pijama. Por outro lado, muitos estudos já mapearam o impacto do excesso de interações virtuais na saúde mental, em especial nos índices de ansiedade e depressão. Mas será que, além disso, a era digital produziu algum efeito colateral nos relacionamentos reais?

O que significa intimidade artificial?

Esse é o principal questionamento na origem do conceito de intimidade artificial. Você está presente e ao mesmo tempo não está! Não há uma conexão emocional genuína. E isso vale tanto para relações pessoais quanto profissionais, já que não deixamos nossas emoções guardadas em uma gaveta quando estamos no trabalho.

Construir relações saudáveis, inclusive profissionais, implica andar de mãos dadas com as próprias emoções. Além disso, exige atenção, estado de presença, afetar e se deixar afetar pelo outro – se vincular.

Difícil distinguir o real do superficial

No entanto, a intimidade artificial produz uma falsa sensação de conexão que nos faz reduzir as expectativas de empatia e intimidade genuína, tornando as relações cada vez mais superficiais e distantes. Passamos a não diferenciar a qualidade de uma relação com vínculo significativo de uma interação em que recebemos e ofertamos atenção parcial, meia escuta e nenhuma afetação.

A era da hiperconectividade pode até mascarar a escassez de vínculo, mas não é suficiente para enganar nosso sistema emocional. Não à toa, também se tornou a era em que as pessoas mais se queixam de solidão e ansiedade. Nenhuma dessas IAs é capaz de substituir relações profundas e significativas.

Cabe a nós decidirmos até onde deixaremos que elas facilitem nossa vida sem nos roubar de nossos sentidos e de nosso sentir. Sem nos roubar daquilo que nos faz plenamente vivos e que precisa ser compartilhado.

➥ Leia mais
Para além do match, internet vem mudando relacionamentos
Você pode criar vínculos afetivos seguros
Doomscrolling: rolar o feed sem parar afeta a sua saúde mental

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário