Em paz consigo mesmo
Nossa sociedade estimula a comparação e a competição. Porém, ninguém é tão especial nem tão imperfeito. Podemos descansar nessa verdade

Você se sente realmente bem nesta sociedade competitiva? Pergunto, pois temos a ideia de que, para nos sentirmos bem, precisamos ser especiais, acima da média, melhores do que os outros. Posso lhe apresentar uma forma diferente de pensar?
Os tibetanos definem os problemas da autoestima perfeccionista com um ditado memorável: “Inveja de quem está acima, competição com quem é igual e desprezo por quem está embaixo.” Essas três coisas, dizem eles, estão na raiz de toda insatisfação e infelicidade humanas.
Quando li isso pela primeira vez, lágrimas rolaram e senti um aperto no peito que jamais esquecerei. Eu me dei conta de que vivia, desde criança, em uma eterna e voraz competição. Quando vivemos dessa forma – com inveja, competição e desprezo – estamos sempre em guerra, com os outros e com nós mesmos. Sem falar que é a receita perfeita para a desconexão com as dores e os problemas alheios.
Quando a comparação começa a se diluir
Aprendi que não somos nem muito especiais nem muito imperfeitos. Somos muito bons em algumas coisas, porém não em todas. Podemos ser excelentes em algumas habilidades e comuns, até limitados, em vários pontos. É dificílimo lidar com esse fato. Entretanto, esta compreensão fez a minha necessidade de comparação e competição começar a se diluir.
Supomos que somos especiais e acima da média porque classificamos outras pessoas como medíocres, abaixo da média ou inferiores. E esse tipo de entendimento é uma fonte de sofrimento, preconceitos e injustiças. Mas, veja que curioso: quem se acha melhor, superior aos outros, no fundo, possui uma necessidade visceral de autoafirmação.
Na verdade, estamos todos interligados
É triste constatar que perdemos a capacidade de gostar de nós mesmos quando passamos a viver baseados na comparação, na competição, na inveja, na desqualificação dos outros, como se todos fossem inimigos a serem vencidos. No livro A virtude da raiva (Sextante), Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, afirma que essa postura pode nos levar à raiva e à violência, “nos deixando cegos para o fato de que todos estamos intimamente conectados.”
Há sete anos, tive a felicidade de absorver esse ensinamento. Desde então, entendo que uma pessoa emocionalmente saudável não se sente superior a ninguém nem precisa provar o tempo todo que é extraordinária. Ela simplesmente se sente em paz em relação a quem é, aceita a sua vida e é feliz genuinamente, sem precisar se sentir melhor ou pior do que ninguém.
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