Dá pra ter uma boa relação com o celular?
Uma reflexão prática sobre como pequenas mudanças podem transformar nossa relação com a tecnologia e devolver presença à vida cotidiana
Eu preciso respirar fundo duas vezes antes de entrar em qualquer rede social. Literalmente. Só depois de inalar e exalar o ar profundamente é que o aplicativo fica liberado para o meu uso. Decidi instalar um programa de bloqueio de apps ao me perceber um tanto refém desse aparelhinho. Depois de concluir a tarefa – respirar! –, a pergunta: você quer mesmo continuar? E a maioria das minhas respostas é “não”. Quando instalei e configurei a aplicação (dá pra escolher diversas ações que você precisa concluir para o app em questão ser liberado), duvidei que fosse dar certo. Mas não é que respirar fundo e conter o impulso de checagem era tudo o que eu precisava para baixar drasticamente o meu uso de redes sociais?
Parece que os celulares viraram extensões do nosso corpo: nos acompanham em todos os lugares e situações. Acordou? Logo vai checar o aparelho. Café da manhã é uma mão na xícara e a outra, no celular. Companhia para ir ao banheiro? Pode contar com ele. Conversas são entrecortadas pelos sons de notificações –ou uma tela que acende… Momentos de descanso esticados no sofá também são mais uma oportunidade para rolar o feed. Na hora de dormir, lá vai ele pra cama também. Enfim, uma grande invasão em nossa rotina. Será que a gente consegue parar pra pensar (ou respirar) e responder: preciso mesmo dele agora?
Talvez você já esteja cansada ou cansado de saber dos malefícios do uso excessivo de celular: O bombardeio constante de notificações e estímulos fragmenta a atenção e dificulta o foco; a luz azul da tela interfere na produção de melatonina, prejudicando o sono profundo e reparador; durante o expediente ou estudos, checar redes sociais ou mensagens “rapidinho” quebra o ritmo produtivo. Isso sem falar que acompanhar constantemente as vidas idealizadas nas redes pode gerar baixa autoestima e outros sentimentos que só diminuem nosso senso de valor. E tem coisa mais chata que estar em uma conversa e se ver falando sozinho quando a atenção do nosso interlocutor é capturada por esses pequenos aparelhos?
Eu achava que fazia um bom uso do celular até reparar melhor – e sentir os malefícios desse excesso. Excesso? Sim. O uso vira vício mesmo: dá dopamina, recompensa rápida. Quanto mais usamos, mais difícil é parar. Mas reduzir a dependência foi tão transformador que talvez valha compartilhar essas dicas com mais gente:
Use um app de bloqueio consciente, como One Sec, Forest, Freedom ou StayFree. Eles criam uma pausa antes de abrir apps que ativam o piloto automático.
Tenha zonas e horários sem celular: Nada de celular à mesa, no quarto à noite ou no banho com o filho. Crie “santuários” livres de tela.
Programe seu acesso: Combine consigo mesmo horários específicos para ver redes sociais (ex: 15 min no fim da manhã e 15 min à noite). Fora disso, app fechado.
Substitua com rituais analógicos: Leve um livro, um caderno, faça pausas reais. Desenhe, escreva, contemple.
Descanse sem aparelho. Sabe aquele momentinho que você tira para não fazer nada como se fosse descanso, mas não solta o celular?
Durante o uso, faça pausas para respirar profundamente. Depois de um período olhando as telas, nossa respiração entra em um modo superficial. Respire fundo algumas vezes a cada dez ou quinze minutos.
Desative notificações desnecessárias: Isso muda radicalmente a relação com o aparelho. Tire notificações de redes, e-mails, apps não urgentes.
Avalie seus gatilhos emocionais: O que você busca quando pega o celular sem perceber? Fuga? Tédio? Esse é o ponto de partida para mudanças reais.
Hoje, o mais legal de passar bem menos tempo nos aparelhos é que é como se eu estivesse mesmo no mundo e no momento presente. Acordo e meu dia começa sem telas; consigo me concentrar melhor nas tarefas sem espiar as redes; estou lendo mais; brinco com meu filho com muita presença. E o mais interessante: eu não sinto falta do aparelho. Pensava que seria muito difícil ficar de fora (olha o FOMO aí). Mas a vida se torna tão mais preenchida que você se lembra de como é bom não depender de aparelhos para respirar. E nem dessa dopamina barata para reparar no mundo e viver mais feliz.
Me conta se experimentar.
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