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Cuidado com o ladrão da alegria
(Foto: Freepik) Só podemos escolher como agir uma vez que percebemos e nomeamos o que sentimos e pensamos
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Neste artigo:

Tem dias que tudo está indo bem, até… não estar mais. 

Era sábado, e meu noivo e eu estávamos empolgados para agendar nosso casamento civil no cartório. Não queríamos ter nenhum estresse desnecessário, então acordamos cedo e nos programamos para deixar tudo arrumado antes de sairmos.

Fizemos questão de avisar as testemunhas, nossas mães, que elas precisavam chegar no horário combinado, com os documentos em mãos. E apesar de toda a programação, sempre há coisas que saem do nosso controle… e foi o que aconteceu.

Meus sogros se atrasaram e chegaram tarde. Nós, com receio de perdemos a agenda, começamos a ficar preocupados e bastante irritados. Quando eles chegaram, já era tarde demais: o ladrão da alegria já tinha aparecido e deixado um “climão”.

Fomos ao cartório, nós frustrados e eles culpados, com algumas farpas e justificativas que, naquele momento, não faziam a diferença. 

A boa notícia é que, mesmo com atraso, conseguimos fazer o agendamento do casamento civil. A má notícia é que demoramos boas horas para lembrarmos do maior motivo de estarmos ali: nos alegrando pela celebração da nossa união.

O que é o ladrão da alegria?

A primeira vez que ouvi sobre o ladrão da alegria foi durante um workshop em uma empresa, enquanto eu ensinava sobre Inteligência Emocional.

Uma aluna me fez uma pergunta intrigante: “Por que as emoções negativas parecem ter um peso maior do que as positivas?”

E ela contextualizou: Percebo que, desde muito nova, tenho momentos em que tudo vai bem e estou feliz. Até que, de repente, uma expectativa minha não é atendida e isso estraga TODO o meu dia! Minha mãe sempre me falou para ter cuidado com esse ladrão da alegria… mas nem sempre eu percebo que ele está lá.”

Ao nomear a sensação de frustração como “ladrão da alegria”, a mãe dessa aluna praticou uma estratégia brilhante de inteligência emocional, chamada metacognição.

O poder da metacognição

A metacognição é a habilidade de criarmos consciência dos nossos sentimentos, pensamentos e necessidades em uma situação, sem ficarmos imersos nela

Isso é especialmente desafiador quando algo nos causa dor emocional e sofrimento, mas extremamente útil para seguirmos adiante apesar do que nos aconteceu — com mais maturidade e sabedoria emocional.

Dar nome a sentimentos, pensamentos e reações promove essa virada de chave que aciona a metacognição. No caso do ladrão da alegria, a virada acontece quando percebemos que a frustração com uma expectativa não atendida nos tirou a capacidade de nos alegrarmos com as demais expectativas atendidas!

A metacognição fica ainda mais potente quando damos um toque de humor à situação. Eu, por exemplo, gosto de nomear meu lado vitimista de “Maria do Bairro”. Quando percebo pensamentos dramáticos vindo à tona, lembro que a Maria do Bairro quer entrar em cena e isso me ajuda a retomar a consciência e ter uma atitude mais madura.

Como enfrentar o ladrão da alegria?

Exorcizamos nossos demônios pelo nome. 

Só podemos escolher como agir uma vez que percebemos e nomeamos o que sentimos e pensamos.

Ao percebermos que não estamos nos sentindo de uma forma que contribui para atitudes construtivas, podemos criar um espaço até nos regularmos e decidirmos o que fazer. 

A autorregulação pode ser feita através de respirações, tempo para reflexão, técnicas de relaxamento corporal ou de ressignificação mental. Eu ensino técnicas diárias no meu canal de Pílulas Emocionais, que você pode entrar aqui.

Já diria Viktor Frankl: “Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher nossa resposta. E, na nossa resposta, está o nosso crescimento e a nossa liberdade.”

A Inteligência Emocional nos permite perceber o estímulo e criar espaço para reagirmos intencionalmente.  

Voltando à história do começo do artigo, quando eu e meu noivo percebemos que deixamos o ladrão da alegria comandar nossas reações, fizemos um combinado: não deixaríamos isso acontecer no dia do casamento civil, mesmo que imprevistos acontecessem. 

Manteríamos o foco na nossa intenção e em qual memória queríamos levar.

A cerimônia foi muito especial e não deixamos nenhuma expectativa frustrada contaminar nosso estado emocional. 

O ladrão da alegria ficou de fora da festa.

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