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Como ampliar seu horizonte
(Foto: Débora Zanelato) Olhar para o horizonte também nos ajuda, literalmente, a ganhar espaço
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O dia começou como mais uma outra quinta-feira qualquer. Acordei cedo, levei meu filho na terapia e, de lá, deixei-o na escola. Parei alguns minutos para conversar com a professora e, quando peguei o celular para chamar um carro por aplicativo pra voltar pra casa: aparelho sem bateria. “Um ponto de ônibus em frente, ótimo!”, pensei. Cadê a minha carteira com meu bilhete único – ou pelo menos cinco reais? Ficou em casa.

Imediatamente aquela voz interna começou a tagarelar: “tá vendo, se você tivesse deixado o celular carregando na noite anterior, se tivesse checado se a carteira estava dentro da mochila…”. Aqui em Vida Simples, brinco que somos convidados todos os dias para colocar em prática aquilo que a gente prega. Por isso, cada situação adversa é um momento da gente escolher encarar como martírio ou aprendizado. Naquele momento, interrompi a voz que me chicoteava. “Bom, acontece. Posso voltar para casa caminhando. Não sou eu que vivo falando que adoro andar?”. Olho para os meus pés: justo naquele dia, calcei uma bota de salto…

Quando tudo parece dar errado, a gente facilmente pode cair na tentação de achar que aquilo é um presente de mau-gosto do Universo. Um “castigo” para nossa desorganização. Um momento de muito azar. Ou não. O que é que vai se apresentar a partir de agora?, pensei.

Decidi sair andando mesmo assim. Cortei caminho por um parque que frequento desde a minha infância: o Horto Florestal, na Zona Norte de São Paulo. O parque estava relativamente vazio. Alguns corredores, um pai com uma menina em sua bicicleta, uma mãe empurrando um carrinho de bebê…

“Bom, estou sem celular. A coisa boa é que ninguém vai me interromper”. E sentei para observar os patos e gansos buscando alimento. As carpas se agitaram na esperança de petiscos quando o pai se aproximou do lago com a filha. Entre os sons dos passarinhos, um avião cortou o céu. Pensei: Há vida em todo o canto. Todas são importantes. No céu, no mar, na terra.

Na nossa sociedade, momentos como esses, de contemplação, até podem ser almejados, mas honestamente, são muito mais ignorados na nossa rotina de produtividade. Ficar parado olhando pro nada? Sim. Eu estava numa toada de dias tão corridos – talvez por isso tenha esquecido de carregar o celular, de levar a carteira e até mesmo colocado o primeiro sapato que vi pela frente – que eram exatamente aqueles momentos de apenas olhar para o horizonte o que eu mais precisava.

E quando a gente diz que contemplar a vista faz bem, é porque realmente faz. Desde o tempo das cavernas, olhar para um espaço aberto dava ao cérebro humano a sensação de segurança e relaxamento, reduzindo a ansiedade.

Olhar para o horizonte também nos ajuda, literalmente, a ganhar espaço. Interno.

É como um reset para o cérebro, permitindo que ele faça novas conexões. Sem contar o fato de colocar em perspectiva nossos problemas diários. Além disso, quando observo a sofisticada inteligência que existe na natureza, penso que sempre há boas soluções para aquilo que a minha mente apequenada ainda não conseguiu enxergar.

Me levantei e continuei caminhando pelo parque, até sair pela outra entrada. Mais algumas quadras e eu estava em casa.

Quando algo dá errado, a gente pode escolher se debater, espernear. Ou acolher, aceitar. Geralmente, o que se revela não é aquilo que a gente queria no momento. Mas, possivelmente, era o que a gente mais precisava.

Desejo uma ótima semana para você. De bons horizontes e de tempo para apenas contemplar o seu viver.

* A foto de abertura dessa news é a que tirei no dia dessa visita 😉


Conteúdo publicado originalmente na newsletter da Vida Simples. Cadastre-se para receber semanalmente em seu email a newsletter Simplesmente Vida, com cartas exclusivas de Débora Zanelato, diretora de conteúdo de Vida Simples.

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