Brincadeiras sérias
A busca por jogos de tabuleiro para o treino de habilidades socioemocionais revela a necessidade urgente de conexão humana

Não é de hoje que sabemos da importância das soft skills. Um estudo feito em 1918 perguntou para 1.500 engenheiros o que era determinante para o sucesso e, na época, as qualidades pessoais foram citadas sete vezes mais do que o conhecimento técnico.
O resultado dessa pesquisa não me surpreende. Afinal, técnica pode ser ensinada com facilidade, mas habilidades como empatia, comunicação, criatividade e liderança não são tão fáceis de transmitir, mesmo sendo até mais importantes.
Para piorar, hoje em dia há uma impressão geral de que – sobretudo depois da pandemia – a digitalização excessiva da vida atrapalha tais habilidades.
Claro que o digital é inigualável quando o assunto é eficiência ou velocidade. Mas, quando se trata de conectar pessoas, de fato ele não se compara à realidade da vivência analógica.
Jogos de tabuleiro para exercitar habilidades socioemocionais
Não creio ser coincidência o crescimento dos jogos de tabuleiro. O hobby está em franca expansão, atraindo desde pais desesperados por alternativas às telas até executivos buscando meios de fomentar soft skills entre seus colaboradores.
Quando falamos de comunicação, trabalho em equipe, adaptabilidade, vejo um tipo específico de jogo fazendo cada vez mais sucesso: os cooperativos com limitação de comunicação. São jogos em que os participantes se ajudam em vez de se enfrentarem, mas não podem comunicar-se livremente.
Atividades treinam estratégia e alinhamento da equipe
Um exemplo é A tripulação (Devir), no qual joga-se uma espécie de truco (um jogo de vazas, em que cada um lança sua carta e a mais alta vence a mão), mas com missões específicas. Por exemplo, a cada rodada uma pessoa predeterminada deve ganhar a mão, ou uma cor não pode prevalecer, ou a vaza tem que ser vencida por um número baixo. A única forma de se comunicar, entretanto, é lançar uma carta e esperar que os parceiros compreendam a estratégia.
Outro exemplo mais recente é o jogo Sail (a ser lançado pela mesma Devir), no qual as vazas fazem um navio avançar por um mar cheio de monstros. Os naipes das cartas são canhões, timões, sereias, mas só se conseguirmos formar as combinações corretas – sem nos falarmos – será possível atirar no monstro e desviar dos obstáculos.
São alternativas lúdicas para se trabalhar adaptabilidade, criatividade, coordenação e liderança.
Considero sintomático que essa mecânica esteja crescendo. Isso indica que estamos mesmo precisando treinar habilidades socioemocionais. Eu, particularmente, adoro o fato de que os jogos nos permitem fazer isso enquanto nos divertimos.
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