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Ai, que sono…
Gregory Pappas
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Esta é uma história antiga. Eu estava ainda no colégio, e me lembro bem daquela aula de matemática que acabou virando aula de biologia. O professor explicava o Teorema de Pitágoras e eu procurava me concentrar. Não é exatamente complicado. O difícil, Pitágoras já havia feito há mais de 25 séculos. Apesar disso, eu tinha dificuldade para acompanhar a explicação do professor, que era superdidático, e sempre procurava trazer exemplos aplicados na vida.

Mesmo assim, eu estava com um problema. Não conseguia me concentrar. Tinha sono e queria, simplesmente, dormir. O professor Haroldo percebeu e, ao contrário do que fariam muitos outros, não me repreendeu nem me ridicularizou diante dos colegas. Ele, simplesmente, permitiu que eu dormisse e, ao final da aula, me chamou para uma conversa privada. O que o mestre queria era conhecer a origem de meu sono. Podia ser, em sua versão, que ele não estivesse conseguindo prender a atenção deste aluno, e, se assim fosse, sua didática estaria capenga e ele poderia estar falhando como professor. Mas não era isso, ao contrário. Ele era um de meus professores preferidos, sempre tentando criar interesse pelos assuntos da matemática – e quase sempre era bem-sucedido.

O problema eram as provas semestrais que estavam chegando, e eu queria, porque queria, adiantar a aprovação, diminuindo a pressão no segundo semestre, que tem, lá em sua pontinha, as provas finais e, no limite, a indesejada segunda-época. E eis que este aluno inadvertido resolvera passar algumas noites estudando, à base de muito café com Coca-Cola. Cruzes!

Constância do sono

Delito confessado, mistério esclarecido, e o professor de matemática não perdeu a oportunidade de repreender o aluno e explicar o tamanho da burrada em questão. “O sono é o mais importante alimento do cérebro, depois do oxigênio”, disse ele. “Dormir não é tempo perdido nem sequer mal aproveitado. Dormir é fundamental para a nossa saúde. Não descansar, dormir à noite não provoca apenas sono durante o dia, provoca várias doenças. Não se trata de uma simples contabilidade.”

Realmente não é. Você não pode, simplesmente, passar uma noite em claro e depois compensar dormindo o dobro no dia seguinte. Não é assim que funciona o nosso cérebro. Tem que haver equilíbrio, estabilidade no tempo. O sono é tão importante ao organismo que estamos programados para dormir cerca de um terço de nossa vida inteira. E deve haver um motivo para isso. A natureza não é boba. Para resumir, o sono provoca uma redução de nosso metabolismo, uma vez que os músculos, e o próprio cérebro, estão em estado de repouso. E isso permite que o organismo direcione a energia para outras funções, especialmente neste para a síntese de substâncias essenciais, como o tal GH, ou Hormônio do Crescimento, que, por sua vez, estimula a produção de muitas outras moléculas – entre elas, as enzimas e as proteínas estruturais.

Isso não é um manual

Este não é um texto técnico ou um manual sobre o sono. Não precisamos aqui explorar a fisiologia do sono. É  suficiente que eu lembre ao caro leitor a sensação física e mental insuficientes e desagradáveis que experimentamos em um dia que segue uma noite mal dormida. Todos já passamos por isso. Quando é algo esporádico, vá lá, está tudo certo. O problema é que há evidências de que vivemos uma espécie de epidemia dos distúrbios do sono, o que justifica o surgimento de várias clínicas especializadas e de áreas destinadas a isso nos grandes hospitais do Brasil e do mundo.

Durma relaxado

No resumo do resumo, as pessoas que não dormem bem têm uma de três possibilidades: distúrbios respiratórios ou digestivos, inadequação do ambiente ou ansiedade exagerada. Eu mesmo passei uma noite no hospital só para que os especialistas acompanhassem meu sono. Esse exame se chama polissonografia. Diagnóstico: eu tinha microdespertares provocados por uma dificuldade de respiração nasal em função de uma característica anatômica peculiar. Meu narizinho é fino por dentro e, à noite, o pequeno edema formado pelo ato de deitar dificultava tremendamente minha respiração. Solução existe. A ciência está aí para isso.

Atualmente durmo com uma máscara ligada a um compressor portátil, chamado CPAP, sigla em inglês para “pressão de ar positiva contínua”. E o mais legal: o que mudou mais após essa pequenina providência não foi o tempo de sono. Foi, sim, o tempo de vigília. Ou seja, agora, quando estou acordado, estou mais acordado do que estava no tempo em que, quando estava dormindo, não estava tão dormindo assim. Deu para entender?

Não durma tenso. Você vai dormir de cansaço, mas não de relaxamento. Aprenda mais esse autocontrole, e tome mais esse cuidado com sua saúde e seu bem-estar. O sono faz parte do trio da saúde, junto com o exercício e a alimentação. Com isso em dia, o resto a gente enfrenta…

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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