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A vida simples é uma nova riqueza
Paige Cody
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Dentro da filosofia não há consensos. Na verdade, os filósofos tendem a discordar ferozmente uns dos outros. Uma das poucas exceções, talvez seja a razão da angústia humana. Dentre todos os seres viventes, o homem é o único que se angustia… porque é o único animal que sabe que vai morrer.

E como tudo evolui. Recentemente, o homem tem mais um conhecimento exclusivo, à frente das outras espécies, a ciência da possível extinção do seu mundo. As previsões apocalípticas sobre o fim do planeta não são uma novidade. O que é novo é que essas previsões começaram a se tornar realidade. E, de acordo com especialistas, a atual geração é a primeira que tem plena consciência do desastre ambiental e também a última que tem a oportunidade de fazer algo para detê-lo.

O sentimento de perda do mundo, restrito aos poetas do romantismo, agora é coletivo. Bem… não todos. Há ainda um grande contingente de ecocéticos. Apesar da descrença, há provas concretas. Foi resgatado um estudo feito na década de 70 pelo exclusivo Clube de Roma.

O grupo, sediado em Roma — formado por acadêmicos, líderes empresariais e membros de governo de todos os cantos do globo — ainda está no ativo e reúne-se regularmente para monitorar o uso dos recursos naturais do planeta.

O estudo — elaborado com a ajuda do World1, um programa de computador do MIT — mostra os índices de poluição, crescimento populacional, recursos disponíveis e qualidade de vida. Nele consta que a nossa civilização atingiu o pico da excelência em 1940, passará por sérias dificuldades em 2020 e entrará em colapso até 2040.

Hoje, 2019,  poucos meses antes do ano apontado como “crítico” de acordo com o estudo, o assunto voltou ao debate e tentam comparar a realidade com as previsões. E o resultado é que os prognósticos se confirmam: desde 1940 os quatro itens analisados continuam em queda e — no caso da poluição no planeta —  em queda muito acentuada. Apesar do alerta,  o Clube de Roma é otimista. Muita coisa está sendo feita em nível individual e global.

Porém, quem acompanha as notícias sobre aos efeitos do aquecimento global, está muito pessimista. O que se tem feito, ainda é muito pouco e o planeta continua a aquecer. Os acordos entre países tem um efeito muito pequeno. A mudança precisa ser individual e —  quase revolucionária.

É preciso um novo estilo de vida. Ora, a mudança prática precede uma mudança de pensamento. Para se ter uma ideia o quão longe estamos de mudanças significativas, recentemente, houve uma reunião na Suíça para debater o aquecimento global. Quase 100% dos participantes foram até o local de jato privado.

Como é possível? É como discutir os benefícios do veganismo num banquete carnívoro. Claro, os intervenientes era milionários atarefados, habituados ao luxo e a exclusividade. As mudanças devem começar exatamente aqui. Os excessos, as extravagâncias e o desperdício de recursos não devem ser ícones de prestígio e glamour. Deve ser visto como algo não ético e feio. Alguém alinha? Hoje, a vida simples não é uma questão de moda, é uma necessidade ética dos novos tempos e deve ser considerada uma nova riqueza.

O que vem à cabeça é que não somos responsáveis, não é conosco. É assunto para esbanjadores, para os gatos gordos do planeta… Não é. Todos produzem lixo, consomem recursos naturais e energia. É necessário resistir ao pensamento de que a iniciativa individual não faz diferença.

Há um exemplo esclarecedor sobre os horrores que o ser humano é capaz quando se esconde no coletivo.  Muitos questionam sobre a “ocupação” de torturador. Como é possível ofício tão horrendo? Simples. Para que os torturadores pudessem pousar a cabeça no travesso e dormir em paz, o sistema contornou o problema diluindo a responsabilidade.

Cada torturador era responsável por um botão com uma voltagem mínima. Um torturador era apenas um entre 100, sua ação não fazia quase nada contra o torturado. Se ele não apertasse o botão, os outros 99 o fariam. Outro impedimento: a recusa, além de não fazer nenhuma diferença para o torturado, o torturador incorria no risco de perder o emprego. Nas questões da ecologia, todos sucumbem a essa mesma lógica e nada é feito. A questão que se coloca é: e se os outros 99 não apertassem o botão?

A questão do lixo — como o plástico —  é muito grave. Como tudo está interligado, a contaminação espalha-se. Todo o lixo acaba indo para o oceano, o peixe come plástico e nós acabamos por comer plástico.

A reciclagem é incentivada, até porque é lucrativa. Mas não está sendo eficiente. No movimento para a eliminação do plástico, vejo a febre do combate ao canudinho — agora eles são de aço inoxidável, de louça, comestíveis — e, no supermercado, tudo é embalado em plástico.

No mesmo supermercado, há um corredor inteiro de marcas que fabricam garrafas de plástico (sim, porque não fabricam água). Uma parte difícil de salvar o planeta é contrariar a nossa adição para o consumo.

Uma forma de minimizar novas aquisições é imaginar o seu potencial para tornarem-se lixo. A segunda medida é avaliar se é uma compra realmente necessária. Com a sofisticação capitalista, as nossas necessidades aumentaram.

Algumas são devidos ao nosso complexo modo de vida, mas outras são meras ilusões criadas para aumentar as receitas das empresas. Esteja atenta a elas. Vá a sua conta bancária e verifique para aonde está indo o seu dinheiro. Posicione a lupa e tome medidas.

Nessa tarefa, preste atenção na indústria do vestuário — a mais agressiva e voraz para o planeta. Poluidora e insalubre,  a fast fashion — ou a roupa descartável — busca o lucro crescente e para isso ataca em várias frentes.

Não existem mais coleção primavera/verão. As roupas chegam às lojas semanalmente. Os duráveis e confortáveis tecidos naturais, como o algodão, foi abolido. Hoje usa-se uma roupa metade do tempo que se usava há 10 anos. Para atender a indústria, fabrica-se tecidos maléficos para o ambiente e para a comunidade que o produz.

Para diminuir ainda mais os custos de produção e aumentar os lucros, desde fast fashion, como a Zara, até grifes de prêt-à-porter mudaram as suas fábricas para países como a China, o Bangladesh e Vietnã, onde os salários e direitos trabalhistas são mínimos e ainda vigora o trabalho escravo e infantil.

Diante deste quadro sombrio, a solução é verificar a etiqueta, o país onde foi fabricado, o tipo de tecido. Recentemente, o meu filho, atento a essa realidade engajou-se na causa. Como a denominação “100% algodão” já é um pré-requisito aqui em casa desde longa data, ele passou a verificar o local onde as roupas são fabricadas.

Regularmente, ele consulta sites como o Rank a brand que mede o grau de sustentabilidade das marcas (emissões climáticas, uso de material ecológico e energia renovável, salários justos e combate às más condições de trabalho). Hoje quando elogiaram a sua  simples camiseta branca, disse com satisfação que era “made in Europe”.

Não se trata de uma simples informação da onde provém a fábrica que fez a peça. Na verdade, o que o meu filho está querendo dizer é que ele está fazendo a sua parte. Independentemente do que as outras 99 pessoas vão fazer. Ele não vai apertar o botão. O consumo consciente é um gesto simples e individual, aparentemente inócuo, mas que pode mudar radicalmente a nossa vida e o planeta.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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