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A vida sem slides
Foto: Junior Ferreira/ Unsplash. Se está tudo controlado, planejado, definido, calculado, não tem espaço para o novo
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Neste artigo:

O que você sente quando ouve a palavra caos? Dá um medinho, né? Caos geralmente lembra algo negativo: bagunça, desconforto. Sei como é. Justamente por isso, gostaria de apresentar um novo entendimento: o caos como fonte de criatividade. É no caos que surge o novo. Nada novo surge na ordem.

Pense comigo, a ordem só organiza o novo que veio do caos. No princípio era o caos. E do caos veio a ordem. Na ordem, já existe um caminho definido, ao passo que no caos residem infinitas possibilidades.

A primeira vez que acessei essa perspectiva sobre o caos e a ordem foi por meio do fundador e primeiro presidente da Visa, Dee Hock, no livro Nascimento da Era Caórdica (Cultrix). Ele conta que o sucesso da sua empresa resultou da integração do caos, representado pela abordagem de descentralização, na qual os agentes financeiros da rede tinham um alto nível de autonomia, ao mesmo tempo que estavam dentro de uma ordem.

Criatividade: uma ponte para o desconhecido

Ao longo de uma década, palestrei para corporações usando uma apresentação de slides como apoio. Cada palestra do meu portfólio tinha um nome, uma identidade visual e seus slides. Durante a pandemia, numa das primeiras palestras online que fui contratado para ministrar, a plataforma não permitia mostrar slides. Tive que navegar num caos, já que o meu costumeiro guia da ordem não estava comigo.

O que eu fiz? Comecei a palestra seguindo a ordem dos slides – mesmo sem eles – mas, em certo momento, me ouvi falando coisas que eu nunca tinha falado. Ao me ouvir, eu pensava: “Eita, Murilo, que legal isso que está falando! Fala mais. Adorei”. De onde vieram essas falas novas? Do caos. Na ordem não tinha espaço para elas emergirem.

Para entrar no flow, é preciso afrouxar o controle

Essa experiência me estimulou a fazer intencionalmente mais palestras sem slides – o que gerou muitas falas inéditas. Se está tudo controlado, planejado, definido, calculado, não tem espaço para o novo. Viver no flow equivale a constantemente dançar entre caos e ordem.

Mas é importante lembrar que caos não é sinônimo de desordem; é o nome que damos para um tipo de ordem que extrapola nossa capacidade de compreensão.

Existe o conhecido, que é o que a gente conhece. Existe o desconhecido, que a gente não conhece, mas que dá para vir a conhecer. E existe o mistério, que é impossível de vir a conhecer. É o incognoscível. Para se relacionar com essa instância superior, precisamos da tecnologia da fé. Fé na vida. Fé no mistério. Fé no flow. Que bom que podemos falar sobre isso aqui.

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Fé no flow

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