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“A minha vida me pertence!” Agarre o controle do seu destino
Yoal Desurmont | Unsplash
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A vida é constituída por várias fases. Porém, há alturas em que não se vislumbra nada novo ou diferente. Tudo parece parado. Você sabe qual é o caminho, mas não dá um único passo em direção a ele. É especialista em inícios… de dietas, de cursos, de relacionamentos… Se você se revê como um membro desse clube, talvez você não tenha muitos problemas, mas apenas um: você não está no comando do seu destino.

A vida sem rumo nem sempre é visível a olho nu. Por vezes, o diagnóstico é difícil e só aparece depois de minuciosos exames.  E, talvez por isso, essa tenha sido a primeira tarefa prática da filosofia: examinar a vida. Na Grécia antiga, Sócrates defendia que uma vida não examinada, é uma vida que não vale a pena. E como os gregos desconheciam essa necessidade, Sócrates encarregava-se de demonstrar sua importância. Fazia perguntas, ouvia as respostas, perguntava novamente — exatamente como os psicólogos e terapeutas fazem hoje. Porém, fazia-o em público. Parava as pessoas nas ruas de Atenas e bastavam duas perguntas do filósofo para que o seu interlocutor se desse conta de que estava à deriva, que não sabia para aonde estava indo.

Sócrates defendia que a vida precisava ser pensada, ter uma rota, ser planejada. É preciso reflexão, deve-se pensar para agir e agir pensando. Se você não assumiu o controle do seu destino e não está no comando, as chances de uma navegação em círculos, são altíssimas. Provavelmente você está em movimento, mas volta sempre para o mesmo lugar. Não há progressos.

Como eu não vivi na Grécia antiga e não fui alvo das perguntas fundamentais de Sócrates, no início da minha carreira sentei-me no divã com o “quero mudar isso na minha vida e não consigo. Ajuda-me?” E eu não poderia ter tido Sócrates melhor. Recebi com reverência todas as perguntas do magnífico André Samson (1962-2002) que mais do que um profissional competente, era uma pessoa generosa, cheia de amor (minha gratidão eterna, André!).

À parte a sorte do encontro com grandes interlocutores, o olhar crítico sobre nós mesmos é um excelente ponto de partida. Não sei se você percebeu, mas aqui estamos no coração do autoconhecimento. Faça um levantamento rigoroso de todos os seus valores, o que traduz o que você é, o que acredita. Para se ter uma ideia da importância deles, se você traçar um objetivo e, em algum ponto, ele for contrário a um valor integrante da sua personalidade, esse objetivo não se concretizará. Isso porque a mente humana está programada para bloquear os impulsos que são contrários aos seus valores. Percebeu a importância dos valores? Eles são a base: comece por eles. Depois de estabelecido os seus valores – por escrito (é melhor) – a lição seguinte é: esses valores são realmente meus?

Aqui cabe uma reflexão cuidadosa. Esses valores que você defende são realmente seus ou foram absorvidos da sua família ou da sua cultura? Certifique-se se eles são realmente seus. Pode parecer óbvio, mas esse é um engano muito comum. Tenho um amigo que possuía uma vida invejável: filhos queridos, esposa orgulhosa, uma bela casa e o status (e o salário) de uma bem-sucedida carreira como engenheiro. Para a sua família e para a sociedade era uma vida perfeita? Era. Menos para ele. Ele queria mesmo era ser fotógrafo. Diante da plateia perplexa (inclusive sua esposa, que pediu o divórcio) ele desistiu de tudo e hoje é um fotógrafo feliz e bem-sucedido.

Pergunte a você mesmo: “este valor é meu porque eu escolhi, ou é um valor imposto pelo meu tempo, pela sociedade em que eu vivo, pela minha família?”. Você é educado com determinados valores, mas você precisa revê-los, reconhecê-los como seus. Os valores definem quem você realmente é. Refletir sobre a vida é repensar os seus valores. O processo terapêutico é a revisão dos valores, é por isso que o bom terapeuta não dá conselhos. O que está na mesa são os seus valores e os de mais ninguém. Um conselheiro vai sempre dar uma opinião baseada nos seus próprios valores e estes podem ser muito diferentes dos seus.

Depois do “quem eu sou”, as perguntas “o que eu quero” e “para aonde quero ir”, ficam muito mais fáceis. Separe a sua vida por departamentos (como uma empresa, mesmo!), estabeleça um objetivo para cada um. Estabeleça um plano, um prazo e trabalhe para a concretização. Documente o processo: materialize o seu plano em um objeto — como um caderno — e mensalmente anote os seus avanços e recuos (não se envergonhe deles, assuma-os e registre-os). Estabeleça metas a curto, médio e longo prazo. A vida com propósito, erigida sobre as grades do eu verdadeiro, exige constante vigilância. Mas é uma sentinela doce, porque quando os seus valores estão no comando, as rotinas fluem, o caminho traz alegria e um imenso otimismo empurra tudo o que você faz.

MARGOT CARDOSO (@margotcardoso) é jornalista e pós-graduada em filosofia. Mora em Portugal há 16 anos, mas não perdeu seu adorável sotaque paulistano. Nesta coluna, semanalmente, contará histórias de vida e experiências sempre à luz dos grandes pensadores. 

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