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A chave para manter o autocuidado na sua rotina
juan pablo rodriguez | unsplash
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Há poucos dias, postei uma foto do meu cantinho de meditação com a legenda: “Começo todos os dias com yoga e meditação, meia hora cada. Estava há 3 semanas usando este tempo para o trabalho. Resultado… dor na lombar, ansiedade. Não subestime a importância de uma rotina de autocuidado”.

No dia seguinte, uma das minhas alunas comentou que gostaria de ter a mesma disciplina e consistência. E foi quando eu percebi que me expressei mal ao usar a expressão todos os dias.

Veja, eu não começo todo santo dia com yoga e meditação. Começo apenas os melhores dias.

Assim como você, em tempos de muito trabalho, eu costumo me esquecer em algum lugar. Uso o tempo que eu dedicaria ao autocuidado para produzir mais – uma grande ilusão, na verdade. Na prática, acabo ficando mais ansiosa.

Além disso, tenho dores nas costas por ficar sentada tempo demais. Ou seja, sou muito menos produtiva quando não me estico. Bem menos feliz, também. Mas, por certo tempo, eu acabo cedendo ao pensamento ansioso de que uma hora de trabalho a mais fará grande diferença nos meus resultados.

Vou ficando ansiosa, estressada, as dores aumentam. É quando eu lembro de voltar para o cantinho da meditação.

A disposição de recomeçar

Uma das grandes razões por que abandonamos a rotina de autocuidado, é porque desanimamos frente a nossa incapacidade de manter o equilíbrio.

Quando as demandas da vida interferem com uma rotina que estava indo bem, concluímos que não vai dar certo nunca. Geralmente, escolhemos uma pessoa excessivamente disciplinada para nos comparar e concluímos que não temos jeito mesmo.

Quando você se depara com um post como o meu, você lê apenas “todos os dias começo com yoga e meditação” e ignora todo o resto do meu relato – o fato de que eu também tinha abandonado a minha rotina.

Quando você fantasia que é possível seguir uma rotina perfeita, é impossível não se decepcionar com o que você consegue, de fato, fazer. Enquanto nutrir o sentimento de incapacidade, ficará cada vez mais difícil recomeçar.

Aceite, eventualmente você vai interromper a sua rotina. Você vai deixar de exercitar, meditar, comer bem. E quando você começar a desequilibrar, você vai receber sinais do seu corpo. As dores, a ansiedade, a irritabilidade ou o desânimo começarão a crescer. Nesta hora, você pode ficar desanimado com a sua indisciplina, e desistir. Ou então, você pode recomeçar.

No longo prazo, a consistência é muito mais sobre a disposição para recomeçar uma rotina que você descontinuou, do que sobre a ilusão de mantê-la sem interrupções.

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Aceite, o equilíbrio não existe

O problema, portanto, não é você. O problema é a expectativa de manter-se em equilíbrio. Raciocine comigo.

Equilíbrio é o que acontece quando todas as forças que atuam sobre um corpo se anulam, fazendo esse corpo permanece estável. Por exemplo, você e sua conta bancária permaneceriam perfeitamente estáveis se, no mesmo instante em que você tivesse um prejuízo, descobrisse que ganhou a mesma quantia na loteria. Ou então, se nas vezes em que assumisse um novo projeto, chegasse alguém na sua vida para fazer com excelência o trabalho extra. No equilíbrio, tudo o que lhe é importante permanece inalterado. E você, continua pleno.

O equilíbrio é um conceito platônico. É uma expectativa infantil e romantizada sobre a vida.

Assista um ciclista em câmera lenta e verá que o que chamamos de equilíbrio é, na verdade, uma sucessão de desequilíbrios bem manejados. Para não cair, o ciclista precisa estar consciente das instabilidades, fazendo correções quando a coisa começa a pesar mais para um lado.

Na bicicleta – e na vida – perceber as oscilações e fazer ajustes constantes é o que nos mantém em pé. Mas, para isso, é importante naturalizar os desequilíbrios em vez de enxergá-los como obstáculos intransponíveis.

Ainda sobre a metáfora da bicicleta, o que acontece quando você não acredita na sua capacidade de pedalar? Pois é, qualquer sacudida é capaz de te derrubar.

Autocuidado ou preço para saúde?

Eu não sei você, mas até bem pouco tempo, a minha rotina de autocuidado servia para consertar insatisfações pessoais. Por exemplo, no mestrado tive algumas aulas com o John Ratey, pesquisador e professor de psiquiatria na Universidade de Harvard.

Ratey nos ensinou que questões como depressão, déficit de atenção e ansiedade não apenas melhoram com a atividade física, mas podem ser gerados pela falta de exercício.

Para o pesquisador, o cérebro saudável precisa de aproximadamente 20 minutos diários de atividade aeróbica. Comovida pela ciência, adotei os 20 minutos diários de corrida como remédio para a minha ansiedade.

Costumamos incluir na nossa rotina aquilo que nos é recomendado — pelas pesquisas, pelos médicos, pelos amigos ou até pela moda. Entretanto, esquecemos de refletir se o exercício, alimentação ou prática nos agrada.

Tratamos a nossa rotina como um mal necessário, um sacrifício a ser feito, um preço para a saúde. Quando conseguimos fazer o exercício, a meditação, ou seguimos a dieta, consideramos que “está pago”. Então você engaveta a autocobrança e guarda o chicote do autoflagelamento – por 24 horas, pelo menos.

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Pelo amor é mais eficiente do que pela dor

Se você conhece um pouco de psicologia comportamental, sabe que, melhor do que se esquivar da punição, é receber uma boa recompensa.

Tendemos a repetir comportamentos que são prazerosos. E, quanto antes vier a recompensa, mais efetiva ela será para reforçar o comportamento. É por isso, por exemplo, que chocolate – e redes sociais – viciam. Nos dois casos, a recompensa é quase instantânea. Por outro lado, é pedir demais para um cérebro humano que ele espere meses para finalmente perceber a recompensa de uma nova rotina. Ainda mais se esta rotina for uma tortura diária. É exatamente isso que fazemos quando assumimos uma dieta restritiva demais, ou uma rotina de exercícios que não agrada. Funciona como um tiro no pé.

Não se iluda com a teoria de que bons resultados só surgem a partir da dor e do sacrifício. Cuidar de si não é apenas perseguir bons resultados. Aliás, escravizar-se por resultados não é autocuidado. A melhor rotina não é aquela que dá frutos maiores, ou mais rápidos. A melhor atividade física, por exemplo, é a que te dá prazer.

É da rotina prazerosa que você sentirá falta quando interrompê-la por qualquer motivo. A sua biologia sempre resistirá repetir um comportamento sofrido.

Portanto, em vez de seguir aquilo que funciona para o outro, pergunte-se sobre o que funciona para você. Se você pretende comer mais saudável, reserve um tempo para pesquisar receitas deliciosas. Se você quer exercitar mais, reflita sobre o que poderia ser ao mesmo tempo divertido, ou prazeroso. Por exemplo, pode ser que você odeie correr e que goste de dançar, ou então que prefira estar na natureza em vez de estar em uma academia fechada.

Qual cuidado você precisa agora?

Quando o assunto é cuidar de você, adivinhe quem tem melhor capacidade para encontrar as respostas adequadas Até porque as pessoas costumam recomendar coisas demais. Para regular as emoções, medite antes de dormir, mas não durma. Para melhorar o humor, corra de manhã ao ar livre, mas fuja do sol. Para desafiar os seus limites, faça yoga, mas não force. Para o tônus, musculação. Para quem tem coragem, torture-se com o jejum intermitente. Para quase todo o resto, aromaterapia. Outro dia me peguei tomando café misturado com óleo de coco e manteiga. Quando minha filha fez uma cara de nojo, justifiquei: “esta mistura faz muito bem para algo que eu já não me lembro”. Somos hilários.

Fato é que é impossível – e pouco agradável – dar conta de tudo o que dizem que pode te fazer bem. Mais do que isso, é bastante provável que a lista produza mais ansiedade – e até despesas financeiras – do que benefícios. Além de produzir a sensação de insuficiência quando você não dá conta do recado.

Nos últimos anos, descobri algo que me ajudou a ser mais consistente na minha rotina de autocuidado – e fazer ajustes mais rapidamente quando desequilibro. Não foi um método científico revolucionário, e nem custou dinheiro algum. Chama-se autocompaixão e a sua pergunta-guia é: o que eu preciso agora?

Em outras palavras, o que você gosta de fazer e que te faz bem? Qual cuidado o seu corpo precisa neste momento?

Para mim, frequentemente a resposta tem sido yoga e meditação. Mas, outras vezes, a resposta é correr, ou então dormir mais.

Conectando-se com a sua sabedoria e amor-próprio, a sua própria resposta será sempre a melhor escolha.

Leia todos os textos da coluna de Adriana Drulla em Vida Simples

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