A definição da palavra autenticidade remete a algo verdadeiro, que não passou por nenhum tipo de alteração. Quando levamos essa qualidade para o comportamento humano, a autenticidade pode ser traduzida como uma característica de pessoa que é consistente consigo mesma.
“É alguém que mantém os valores e a postura que escolheu ter para o mundo, com as coisas que defende e com a sua perspectiva de vida. Geralmente, pessoas autênticas são vistas como aquelas que acabam se destacando, porque são muito verdadeiras com si”, explica Renato Herrmann, profissional de Relações Humanas.
Outro aspecto importante das pessoas autênticas é não se perder de quem é, mesmo em situações desafiadoras. “Uma pessoa autêntica não se perde na multidão. Nesse mundo, a gente vai entrando em diversas instituições e acaba se adequando ou se ajustando a diferentes lugares para pertencer. A pessoa autêntica sabe navegar por diversos lugares diferentes sem perder sua essência”, complementa Renato.
No mercado de trabalho, pessoas autênticas tendem a ser mais realizadas, algo que ultrapassa os limites do âmbito profissional, conforme aponta Alana Querino, diretora de RH da Crowe Macro Brasil, empresa de auditoria e consultoria em São Paulo (SP).
“A autenticidade fortalece o senso de pertencimento e engajamento, especialmente em um ambiente que incentiva o compartilhamento de ideias sem medo de julgamentos, onde as opiniões são valorizadas”, complementa.
Benefícios da autenticidade no trabalho
Segundo Bia Nóbrega, especialista em RH e psicóloga, pensar de forma autêntica, porém analítica, melhora a capacidade e a qualidade da tomada de decisões. Atitudes autênticas fomentam um ambiente seguro, no qual as pessoas se sintam igualmente abertas a serem autênticas.
“Isso é extremamente positivo, pois amplia o leque de soluções e oxigena a organização – o que é interessante tanto para a empresa como para o profissional”, explica.
Além disso, ela cita os pesquisadores Michael Kernis e Brian Goldman, que foram a fundo no tema e validaram que a autenticidade está ligada ao aumento do bem-estar emocional e da satisfação no trabalho, pois permite que o indivíduo se sinta alinhado com suas crenças e valores.
“Assim, quando as pessoas conseguem expressar quem realmente são, elas experimentam menos estresse e desgaste emocional. Isso contribui para uma melhor saúde mental e satisfação profissional”, complementa Bia.
Para a empresa, trazer a sua visão autêntica pode abrir portas para inovações e abordagens mais ricas e diversificadas. Quem aponta isso é Denise Milk, psicóloga especialista em saúde emocional das empresas.
“Isso não só fortalece nossa confiança e sensação de pertencimento, mas também faz com que as pessoas ao nosso redor valorizem nossa originalidade. No ambiente corporativo, a autenticidade inspira outras pessoas a também se expressarem de maneira genuína, criando uma atmosfera de respeito e crescimento mútuo”, frisa a especialista.
Assim, a psicóloga complementa que ao apresentarmos nossas ideias com coragem, mesmo que diferentes, podemos ser agentes de transformação para melhor.
Autenticidade e criatividade andam juntas
Para Rosa Bernhoeft, especialista em gestão de pessoas, liderança e CEO da Alba Consultoria, em São Paulo (SP), ser autêntico tem um impacto forte na criatividade, porque o processo de ser criativo vem da nossa percepção sobre nós e sobre o mundo.
“A autenticidade desafia e aguça a nossa curiosidade de pensar e de elaborar fora da rigidez dos padrões, para encontrar algo novo, diferente e melhor. A pergunta chave da criatividade é: ‘será que estou sendo eu?’ ‘Será que a minha relação com o mundo poderia evoluir?’”, explica a especialista.
E para Rosa, é através da autenticidade e da criatividade que nós podemos mudar e progredir, aprendendo a criar coisas novas, e não apenas replicar algo já existente.
O papel da empresa em deixar a autenticidade fluir
Vale ressaltar que uma pessoa autêntica apenas consegue expressar sua visão em uma empresa que permita um espaço seguro de troca e compartilhamento.
“As culturas organizacionais que promovem a autenticidade e a segurança psicológica tendem a ter níveis mais altos de inovação, pois os funcionários têm mais liberdade para explorar e propor soluções originais”, aponta Bia Nóbrega.
E, para implantar essa cultura, a psicóloga complementa que é preciso ter lideranças seguras, que dêem voz – e de fato ouçam os colaboradores – para criar um ambiente propício em que cada um seja, de fato, autêntico.
“No geral ainda vemos empresas com uma vontade imensa por parte dos gestores de que sua equipe seja autêntica, traga novidades e pensem fora da caixa, mas quando isso ocorre efetivamente, muitos desses colaboradores autênticos têm suas ideias tolhidas, o que pode acabar inibindo a cultura da autenticidade”, frisa a especialista.
Quatro passos para alcançar a autenticidade
É importante lembrar que apesar da autenticidade, é necessário saber respeitar outras visões e opiniões, mesmo quando não vão de encontro com a sua. E, para criar esse equilíbrio, Alana sugere quatro passos essenciais:
“O primeiro ponto, que considero principal, é o respeito. Respeitar a opinião do outro trabalhando as posições perceptivas, ter escuta ativa, entendendo os demais pontos de vista, ajuda a integrar suas ideias com as da equipe”, explica a diretora de RH.
O segundo ponto é saber comunicar as suas ideias da melhor forma. Ou seja, ao apresentar uma ideia diferente, explique os motivos por trás dela de maneira que os outros possam entender e considerar seu ponto de vista. Vale mostrar como ela pode complementar ideias já existentes e os resultados positivos que ela pode trazer.
“Também é necessário ter flexibilidade. Afinal, nem todas as ideias serão aceitas e isso faz parte do processo. Devemos estar sempre abertos a feedbacks e pontos para ajustar conforme necessário”, completa.
E o último ponto, porém não menos importante, é a colaboração. Mostre que as suas ideias vêm de um interesse genuíno pela melhoria da organização e não de um desejo de se sobressair aos demais.
Afinal, a autenticidade só consegue prevalecer em um ambiente onde todas as pessoas possam expressá-la. É com uma diversidade de visões e opiniões que, por fim, surge um coletivo de ideias para construir um ambiente de trabalho plural e, claro, autêntico.
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