Conflito de gerações transforma ambiente corporativo
Chegada da Geração Z muda cultura organizacional das empresas com exigência de mais flexibilidade, propósito e saúde mental no centro das discussões
O ambiente de trabalho é composto por diferentes gerações, mas caminha para ser dominado pela Geração Z, também chamada de Gen Z ou apenas Z: pessoas nascidas entre 1997 e 2010. Polêmicos em certos aspectos para os mais tradicionais, esses jovens buscam flexibilidade e não têm medo de cobrar mudanças no ambiente organizacional, o que pode gerar alguns conflitos. Mas isso não precisa, necessariamente, ser algo ruim.
Observar o avanço desses trabalhadores no mercado é importante para entender como será o futuro da cultura corporativa. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 47 milhões de brasileiros são da Geração Z e quase a metade são economicamente ativa: 48%.
As características da ‘Gen Z’
Atualmente, a “Gen Z” divide o mercado de trabalho com outras quatro gerações: a Millennials (1981 a 1995), a X (1965 a 1980), a Baby Boomer (1945 a 1964) e os veteranos (+70 anos). Os mais jovens já compõem mais de 25% da força de trabalho mundial, segundo levantamento da empresa de consultoria e gestão estratégica McKinsey.
A Geração Z são nativos digitais. Ou seja, pessoas que cresceram em um ambiente totalmente imerso em tecnologias. Isso muda muito a visão sobre diversos aspectos do mundo corporativo e trabalhista. Segundo a consultoria McKinsey, essa é a geração em que a compensação econômica é o fator menos importante na hora de sair ou entrar em um emprego. A flexibilidade e o propósito são o que mais conta.
Comparada às outras gerações, a Gen Z é mais sensível aos problemas relacionados ao ambiente corporativo, como hostilidade, saúde mental, acesso a transporte, saúde física e moradia perto do trabalho.
“A Geração Z valoriza ambientes que promovam bem-estar, inclusão, propósito e equilíbrio emocional. São jovens que não se sentem atraídos apenas por salário ou estabilidade, mas buscam empresas que cuidem da saúde mental, ofereçam treinamentos constantes e promovam canais de apoio psicológico”, afirma Kelly Amorim, gerente de desenvolvimento organizacional da Premium Essential Kitchen.
Ser “sensível” a esses fatores não significa que eles não ligam para o trabalho e não tenham desempenho. No entanto, os colegas de trabalho das demais gerações não enxergam isso da mesma maneira.
Conflito de gerações
O relatório “Tendências em Gestão de Pessoas”, produzido a partir de pesquisa feita entre gestores de recursos humanos em 2025, mostrou que 55% dos profissionais têm dificuldade em lidar com pessoas de diferentes gerações no trabalho. Quando questionados se havia uma geração que apresentava um desafio maior, a Gen Z ganhou com 76% dos votos. Os motivos variam: falta de comprometimento, expectativa de projeção de carreira, pessimismo, inflexibilidade no trabalho e insubordinação.
“Para muitos, os jovens que estão entrando no mercado de trabalho chegam com menos resiliência e paciência. Isso gera a sensação de descompromisso. Além disso, eles desejam crescer com mais agilidade, tendo mais dinamismo em sua carreira”, diz trecho do relatório.
Além da diferença de idade, essa dificuldade de relacionamento entre as gerações pode ocorrer por características culturais e históricas sobre o conceito de trabalho. “As gerações veteranas enxergam o trabalho como um valor. Para eles, o trabalho dá sentido à vida. Agora, a Geração Z entende como um meio para atingir os objetivos. Não é o centro da existência deles”, explica Kelly.
No entanto, cada geração tem suas dificuldades. Os Z, sempre ligados às novidades do mundo digital, não estão bem inseridos no mercado de trabalho. Já os demais, com anos de experiência, talvez não estejam tão ligados às discussões atuais.
Essa diferença também ressoa nas discussões atuais sobre ambiente de trabalho e saúde mental. Em comparação com outras gerações, a Geração Z está mais familiarizada com o tema e tende a levá-lo com mais leveza e menos receio. Em contrapartida, ainda há muito trabalho pela frente com as demais gerações, que enxergam a saúde mental como tabu, fraqueza e vulnerabilidade – dentro e fora das organizações.
As visões diferentes geram diversos tipos de atrito. Enquanto os Z são vistos como frágeis, os demais são julgados como inflexíveis e sem empatia.
Lado positivo
Esse conflito de gerações não precisa, necessariamente, ser uma fraqueza nas empresas. “Se for bem conduzido, proporciona reflexão nos funcionários e novos feedback. É possível ouvir as perspectivas que são diferentes e criar uma cultura de cuidado que beneficie todo mundo. Um conflito, quando é bem conduzido, traz resultados positivos para a organização”, explica Kelly.
Segundo a especialista, o que é considerado uma fraqueza pode ajudar na construção de uma cultura corporativa mais saudável por meio da cobrança das lideranças por uma postura mais empática e humanizada
“Antes, até poderia ser um luxo. Mas hoje, é uma necessidade básica falar de saúde mental e apoiar os seus colaboradores.”
O ideal é criar espaços de escuta entre as gerações, que promovam o respeito entre todos os colaboradores e a troca de conhecimento e experiência entre eles. Modelos flexíveis, sem perder de vista a questão dos propósitos e valores das pessoas, ajudam a construir um ambiente mais equilibrado.
Tudo isso é uma forma de reconhecer as necessidades de cada geração, conciliando o passado, presente e futuro do trabalho.
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